Indicadores financeiros

Indicadores financeiros

Se queres saber se a tua empresa está a caminhar para os lucros ou se, por outro lado, deve rever a sua estratégia, os indicadores financeiros são chave.

Indicadores financeiros, também chamados KPIs (do inglês, Key Performance Indicators) são métricas de resultado que geram informações acerca do estado financeiro da empresa, permitindo analisar o seu desempenho. Por essa razão, são essenciais para, como gestor, tomares decisões com base em factos (ao invés de suposições e estimativas). Para além disso, entre outros, permitem visualizar quanto a empresa faturou, qual o impacto dos custos e quais investimentos são mais rentáveis. 

No entanto, poucas PMEs (Pequenas e Médias Empresas) acompanham e analisam os seus indicadores financeiros. Um erro colossal! E muito se deve ao facto de que reunir, consolidar e analisar estes dados não é simples, pelo contrário: exige tempo, foco e gestão voltada para resultados. Uma cultura (infelizmente) raramente presente nas PMEs portuguesas. Verás de seguida, o que são indicadores financeiros, como os aplicar, quais são os principais e quais deves escolher para o teu negócio.

O que são indicadores financeiros?

Indicadores financeiros permitem controlar as demonstrações financeiras de uma empresa. Assim, um gestor pode, a qualquer momento, saber qual a saúde financeira do negócio e perceber se os objetivos traçados para cada indicador estão a ser cumpridos.

Um indicador financeiro deve ser:

  • Mensurável, isto é, expresso como um número;
  • Relevante, ou seja, a qualidade sobrepõe-se à quantidade. Os indicadores devem ser úteis para tomada de decisões, sendo preferível ter poucos, mas bons e fiáveis indicadores, do que muitos que apenas acabam por complicar a tomada de decisão;
  • Comparável, podendo ser usados para comparações com outras empresas do mesmo setor de forma a avaliar a posição da organização no mercado.

A necessidade de dados confiáveis na altura de optar por uma ou outra estratégia, traz ao de cima os indicadores financeiros, que acabam por funcionar como bússolas orientadoras para o empreendedor decidir qual o caminho correto a seguir. Além do mais, os indicadores financeiros permitem fazer projeções de resultados futuros (apesar de se basearem em dados históricos), algo bastante usado por investidores da bolsa de valores.

Importância dos indicadores financeiros

Como já referido, num ambiente empresarial, os indicadores financeiros permitem ao gestor tomar decisões com base em dados ao invés de suposições. Através do planeamento estratégico, a empresa estabelece objetivos que devem ser cumpridos e alcançados a curto, médio e longo-prazo. Ora, os indicadores financeiros são ferramentas que vão indicar ao empresário se os tais objetivos estão a ser cumpridos e se o lucro está a ser gerado. Por exemplo, indicadores financeiros ajudam a decidir se se deve investir na expansão do negócio ou, por outro lado, diminuir os custos de forma a cortar nas despesas.

Abrindo espaço para uma analogia, os indicadores financeiros estão para um negócio, como o painel de instrumentos está para um avião: o piloto precisa das informações provenientes do painel para saber a altitude, velocidade da aeronave, entre outros. Sem o painel, voa à deriva apenas por instinto do piloto. O mesmo acontece numa empresa – se for gerida sem consulta e aplicação dos indicadores, a empresa não tem rumo, correndo o risco de entrar numa espiral negativa sem saída.

Principais indicadores financeiros

Deve ser notado que não existe nenhum indicador infalível. Todos têm falhas e limitações, pelo que devem ser analisados em conjunto e não separadamente. Obviamente, para serem fiáveis, os indicadores financeiros devem ser retirados de fontes também fiáveis, como as demonstrações financeiras (declaração de resultados, balanço patrimonial e demonstração do fluxo de caixa). Eis de seguida, alguns dos indicadores financeiros mais relevantes:

1. Margem de lucro bruta

Mede o lucro bruto de um negócio em percentagem. Assim, o cálculo da margem bruta considera as receitas totais e o custo dos produtos vendidos e efetua-se da seguinte forma:

2. EBIT – Earnings Before Interest and Taxes

Lucros antes de juros e impostos, é um indicador da rentabilidade da empresa. Calculado, como o nome indica, ao subtrair as despesas às receitas excluindo juros e impostos.

EBITDA – Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization

Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização. À semelhança do EBIT, é um indicador de análise de rentabilidade, no entanto, exclui ainda a depreciação e amortização. Este indicador é normalmente preferido por empresas com um grande número de ativos fixos. O EBITDA é, naturalmente, superior ao EBIT. Quanto maior o EBITDA, mais eficiente a empresa é em gerar lucro e valor para os seus acionistas.

4. Resultado líquido

Também chamado de net income, é o resultado após pagos todos os impostos e juros e deduzidas as amortizações e depreciações. Deste modo, traz um reflexo mais verdadeiro da rentabilidade dado que todas as despesas da atividade do negócio foram deduzidas.

5. Custos fixos e custos variáveis

Pode dividir-se os custos em fixos ou variáveis. Um custo fixo não varia diretamente com o aumento ou diminuição do número de produtos ou serviços produzidos e comercializados. São exemplos renda, salários, depreciações. Já os custos variáveis variam em proporção à quantidade produzida ou vendida pelo negócio, aumentando com o aumento de produção/vendas e diminuindo quando ocorre diminuição de produção/vendas. Comissões de venda e matérias-primas são dois exemplos de custos variáveis.

6. Margem de contribuição

Este indicador que visa medir o valor residual da venda de um produto ao serem descontados os custos variáveis. Para calcular basta subtrair os gastos variáveis ao preço de venda. Tomando como exemplo um produto com preço de venda de 1000€ e custos variáveis de 600€, a margem de contribuição é:

Assim sendo, para este exemplo, o valor de venda residual é de 400€ (ou 40% em percentagem). 

Nota que a margem de contribuição não é lucro; lucro trata-se de quanto um negócio ganha com a venda de determinado produto/serviço, ao passo que a margem de contribuição indica por quanto é preciso vender os mesmos produtos/serviços para obter lucro. 

7. BEP – Break Even Point

Também chamado de Ponto de Equilíbrio, quantidade de bens/serviços que o negócio tem de vender para que as receitas igualem as despesas. Por outras palavras, a partir do BEP a empresa começa a gerar lucro. Quanto menor for o BEP, melhor (ao contrário do que acontece com as margens de lucro). É um valor pode ser calculado em termos unitários (de produtos) ou monetários. Para o primeiro caso, divides os custos fixos pela diferença entre preço de venda unitário e custo variável unitário.

Já para obter o BEP em termos monetários, basta dividir o valor dos custos fixos pela margem de contribuição:

8. ROE – Return on Equity

Retorno sobre Património Líquido, é um indicador muito utilizado por investidores no mercado acionista que se baseiam na análise fundamental. Constitui um medidor da rentabilidade de uma empresa e quão eficiente é em gerar lucros. Por norma, quanto maior o ROE, mais eficiente é a gestão da empresa. 

Para calcular este indicador é preciso conhecer o património líquido (presente no balanço patrimonial), que nada mais é que a diferença entre os ativos e os passivos/dívidas da empresa.

9. ROI – Return on Investment

Retorno do investimento, mede quanto um investimento rendeu ao longo de um certo período de tempo. Através deste indicador, uma empresa (ou investidor) pode saber qual foi o lucro (ou perda) obtido para cobrir os custos envolvidos na aplicação de recursos e ainda ter retorno financeiro (caso exista). Pretende-se ter um ROI o maior possível, pois tal representa um retorno maior. O ROI é também uma das métricas mais usadas para fazer comparações com empresas do mesmo setor.

10. Ticket médio

Também conhecido por valor médio de transação, é um indicador de performance interna que avalia a aceitação dos produtos/serviços de um negócio perante os seus clientes. Este vai revelar quanto cada cliente gasta, em média, na empresa e o seu cálculo pode ser realizado tendo em conta diferentes períodos de tempo (mês, trimestre, ano, etc).

11. Prazo médio de cobrança

Corresponde ao número de dias necessários para cobrar aos clientes. O prazo médio de cobrança é definido como o rácio entre as contas a receber no final de determinado prazo e as vendas diárias desse período. Assim, um prazo de cobrança muito longo implica um volume de recursos imobilizados que terão de ser financiados. Consequentemente, prazos de cobrança largos são prejudiciais à organização dado que tem um elevado número de recursos indisponíveis.

Que indicadores financeiros devo usar na minha empresa?

Esta pergunta não tem uma resposta fácil ou direta, pois tudo depende do nível de maturidade de gestão da empresa. Em resumo, é preferível iniciares com poucos (mas bons) indicadores financeiros, que sejam analisados e acompanhados frequentemente. A ideia é depois ir adicionando outros indicadores à análise.

Antes de se analisar um indicador, devem fazer-se duas perguntas: “O que é que este indicador me vai dizer?” e também “Que tipo de decisão tomarei a partir deste indicador?”. Se não houver uma resposta clara para ambas as questões, então talvez não seja necessário acompanhares esse indicador naquele momento. Contudo, não te esqueças, que nenhum indicador por si só é capaz de fornecer uma perspetiva precisa da situação da empresa, devendo ser usados em conjunto.